Não sei de ficar de braços cruzados. Sempre, em toda a minha vida, ao delinear um objectivo, fosse ele qual fosse, eu fiz tudo o que estivesse ao meu alcance para alcançá-lo. Sou assim de feitio, de
espírito, pela formação, a educação e por principio. Se surge uma dificuldade, eu arregaço as mangas e lanço-me aos bichos. Isso faz-me de mim uma vencedora, que conseguiu chegar onde queria, nos mais diversos campos, desde a faculdade, ao emprego, às amizades e à
família.
Só num campo não sou assim. Passo a vida a ouvir, que entre um homem e uma mulher, só há dois papeis
possíveis. O homem decide, enquanto a mulher espera de braços cruzados. Sejam amigas, sejam revistas, há até um livro sobre isso e as mensagens são claras:
- Se o homem não olha, desiste...
- Se o homem não telefona, desiste...
- Se o homem está cansado, desiste...
- Se o homem está a trabalhar, desiste...
E este "desiste" não significa parar de ter iniciativa, parar de lutar, porque a mensagem é clara, a mulher NUNCA deve tomar qualquer acção. O "desiste" consiste apenas em deixar de pensar no assunto, "partir para outra"...
Não sei ser assim, essa não é a minha natureza, mas a
puta da sociedade abafa-me e
confunde-me. Não se pode dizer "gostei de estar contigo" ou "quero estar contigo outra vez", porque vindo de uma mulher, isso será sempre interpretado como
carência, humilhação e até desespero. Deixo-me confundir entre mim e o que dizem os outros e numa tentativa de lutar contra uma das coisas ou, talvez, conciliar as duas, acabo por revelar o contrario daquilo que sou. Se por um lado, não consigo evitar o meu impulso, por outro acabo por achar que tenho que o fazer, mas sob um pretexto
farsola. Arrependo-me do pretexto
farsola e crio um ainda mais
farsola para justificar o primeiro. Caio completamente no
ridículo e transformo tudo num ciclo vicioso, até chegar ao ponto de parecer chata e desinteressante.
Hoje resolvi dizer basta!
Quero dizer o que penso, quero dizer o que sinto!
Quero viver esta historia!
Porque não posso eu dizer, no momento em que o sinto, que gostei de te conhecer? Que superaste as minhas expectativas? Porque tenho eu que ter cuidado com o teu ego? Porque não havemos todos de preencher e voltar a preencher ainda mais, o ego daqueles que são
genuínamente interessantes? Não seria o mundo muito melhor, se
utilizássemos todos a frontalidade, hoje em dia tão em
voga, não apenas para criticar ou para justificar faltas de chá, mas sim, para nos elogiarmos mutuamente? E, se o fizer, porque tenho que esperar X tempo para o fazer?
Sou uma melhor pessoa se me reconhecem qualidades, se me elogiam. Fico mais sorridente, mais feliz e até mais produtiva. E seria ainda melhor, se mo dissessem sem pudores e quando realmente fizesse sentido. Ter que esperar retira toda a
espontaneidade e torna-o menos verdadeiro.
Tenho a certeza de que, se não fosses famoso e, te tivesse conhecido numa outra qualquer
circunstancia, a minha tarde não teria sido menos divertida. Mas és e só, por isso, parece que não to posso dizer. Porque serei apenas mais uma fazê-lo. És famoso e a
puta da fama também me abafa. Deixa-me insegura.
Estupidamente, faz-me sentir mais pequenina. Mas eu não sou mais pequenina, porque dou também um grande contributo ao mundo. Não toco tantas pessoas ao mesmo tempo, toco num circulo mais pequenino, mas de forma mais próxima e, sobretudo, muito genuína.
Se a sociedade já nos faz sentir medo de dizermos o que pensamos, a fama aterroriza. Por isso, deixo de dizer que tive uma boa conversa e que quero mais! Quero conhecer mais, dar a conhecer mais, ter uma amizade, uma paixão, um amor, o que daí puder advir, mas ter algo, sem
subterfúgios, sem atalhos, sem falsos pretextos. Porque não sei ser assim e quando tento sê-lo, vou de tal forma contra o que sou, que deixo, efectivamente, de sê-lo.