quarta-feira, 2 de junho de 2010

A sequela

Vejo, exactamente, o mesmo filme, o mesmo protagonista, a mesma historia, os mesmos erros, os mesmos diálogos, as mesmas fugas. O filme é o mesmo, mas já não é o meu.


Culpam-se os mesmos factos, a rotina. Uma rotina diferente da que tinha sido minha, mas dá-se-lhe o mesmo nome, rotina. E a solução encontrada, essa em quase nada é diferente. Quebrá-la. Mas quebrá-la afastando-se, deixando de estar junto, remando em caminhos opostos, não percebendo, outra vez, que não é essa a solução.

E, agora, que o vejo de fora, percebo. Agora sim, entendo, qual a parte da culpa que me pertencia e que afinal não era toda.

Agora, volta a ser difícil falar de sentimentos. Já na minha altura não o percebia. para mim, é tão difícil um "gosto de ti", como um "já não gosto de ti". São sentimentos, são intimidades, são cumplicidades. Se para mim, depois do "gosto de ti", já estavam desfeitas todas as barreiras, não entendia, a barreira criada para falar dos problemas.

Criei a (des)ilusão que era eu quem não sabia transpor essa barreira, quem não sabia lidar com ela, quem, com medo de o ouvir, inconscientemente, não o deixava dizer.

Só agora, que vejo o filme como espectadora, entendo.

Só agora, o meu copo deixa de estar meio vazio.

Só agora, percebo que a culpa não era minha, não exclusivamente.


6 comentários:

Poetic Girl disse...

A culpa a maior parte das vezes não é apenas nossa... bjs

Silent Man disse...

Ui! E dizes que o meu texto foi bom? Se era pra eu chegar aqui e dizer o mesmo, conseguiste-o pelo texto não pela graxa!

Muito bom!

Ricardo Fabião disse...

quando conseguimos enxergar o vazio, calcular sua dimensão e causa, é porque estamos ainda inteiros;
ele não nos tomou por completo.

Há vazios, no entanto, que estão muito lá dentro, onde uma mão não chega; esses levaremos por toda existência.

Beijos.
Ricardo.

Catsone disse...

E esse filme encontra-se em repetição contínua...

Abraço

Natália Augusto disse...

Culpa? Culpa sua? Que culpa se pode ter se o "filme" que protagonizamos e com quem contracenamos acaba da forma que menos esperávamos? Não há culpa.
Depois deste "filme" viva-se outro e... sem culpa.

Bjs

Louise disse...

Um belo texto sem dúvida alguma. E tão verdadeiro em tantas situações da nossa vida.

A questão é saber observar como espectadores de quando a quando, para que consigamos perceber de forma imparcial toda a história.