sexta-feira, 9 de abril de 2010

Crónica - The Big Brother is watching you


Não há nada que qualquer ser humano menos goste que a vida alheia. E, não, não me venham com tangas, que não são só os portugueses. É o mundo inteiro. Também não é coisa dos Estados Unidos, origem do programa que dá origem ao nome nome desta crónica. É assim em França, Inglaterra, até na China, onde nem sequer tempo têm para esfregar um olho.


Duas pessoas que se reencontram depois de uma vida, não é de si que falam, não senhor. Não contam as últimas férias, a casa comprada, nem o ultimo emprego. Falam dos outros. “O António, lembraste-te do António? Separou-se, vê lá tu. E a Maria? Lembras-te? Aquela que se sentava sempre na carteira da frente, tão estudiosa, tão organizada, tão aprumadinha. Desempegada, vejam só.”

Há aqueles mais timidos ou mais politicamente correctos que dizem que não, não querem saber da vida alheia. Nem se preocupam com o que os outros dizem, não senhor. Não querem saber da vida dos outros, nem que ninguem saiba da sua.

Ninguém via o Big Brother, esse reality show, onde mais não viamos que 12 marmanjos fechados numa casa sem nada que fazer. Os que viam, invocavam motivos sociologos e psicologicos. “Só vejo aquilo, porque me interessa o efeito de estar isolado do mundo e pardais ao ninho”. E as audiencias? Como se justificam? Mais uma vez, não me venham com tangas, o que nós queriamos era ver quem andava com quem, o pontapé do Marco, as galinhas do Zé Maria e a Sónia a contar que o orgasmo é como um iogurte ou outro lacticinio qualquer.

Também só esta imensa curiosidade pela vida alheia justifica as redes sociais. Os facebook, os twiiter e os hi5 desta vida. Este ultimo já em declinio, mas só porque os outros passaram a expor mais da sua propria vida, nas outras. Que justificação sociologica existe para este fenomeno das redes sociais? Eu só vejo uma. Aquilo que eu vejo quando entro numa, são fotografias, frases escritas pelos outros, amigos e desamigos, até amores e desamores. Sim, porque há pessoas que gostam de por “numa relação com Fulano e beltrano” e meses depois, às vezes poucos, lá aparece que Zé Miguel está outra vez solteiro. Até o Linked in, que se diz profissional, serve para pouco menos. Mesmo que haja recursos humanos de uma qualquer empresa a olhar para aquilo, que encontram ali? As pessoas com quem nos relacionamos e pouco mais. O percurso profissional, também lá está, mas não me venham com tangas. Abram a página desta rede e atentem no que tem mais relevo.

O grande interesse destas redes é o mesmo. Ver, observar, dissecar e maldizer a vida alheia.

E o que mais interessa ao ser humano, aquilo a que está mais atento, não é a vida cor-de-rosa do vizinho do lado. É a desgraça alheia. É o, às vezes, pequeno pormenor, que os faz pensar “Afinal este gajo não tem uma galinha assim tão melhor que a minha. Afinal a dele até é coxa, ou magra, ou nem para uma canjinha para a gripe dava”. A mulher engana-o, o trabalho desmotiva-o ou a filha é uma rebelde que só ouve os Tokyo Hotel. Nada como a minha Catia Vanessa que toca piano e fala francês.

Aquilo que o ser humano mais procura e aquilo com que mais se entretém é a vida alheia e a sua desgraça.

4 comentários:

Anónimo disse...

Infelizmente , tens toda a razão , realmente as pessoas só ficam contentes e só querem saber das desgraças dos outros .

Anónimo disse...

"There's no news, like bad news.".

Por alguma razão talvez já estudada, os seres humanos adoram saber da vida alheia, especialmente o que corre mal. Talvez as pessoas precisem de termos de comparação negativos, para perceberem que a sua vida, afinal, não é assim tão má. Numa sociedade tão focada no sucesso pessoal e profissional, as pessoas sentem-se mal quando não o alcançam e encontram conforto ao saber que, afinal, há quem esteja igual ou pior.

Bravo disse...

Bravo.

Silent Man disse...

And may the Big Brother keep you in his arms... ;)

Há sempre diferentes versões de Diário de Notícias entre os nossos amigos/conhecidos mais próximos! Para além disso, por muito aprumadinhos que sejamos, temos sempre uma pequenina (ou às vezes nem por isso) costela de voyeur! E eu contra mim falo porque (para as coisas dos outros) sou das pessoas mais observadoras que eu conheço...

Por isso Lápis, esta primeira vez que cá vim mostrou-me aquilo que eu sempre soube!

There is more to it than just a fancy hair color!

I'll be back!

Kiss